Divulgação científica e notícias de actividades realizadas , no âmbito da Física e da Química,
na Escola Secundária José Saramago - Mafra

18/06/18

"Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo"


No dia sete de maio decorreu, no auditório grande da escola, uma atividade, realizada em parceria com a Biblioteca da escola, com o objetivo de homenagear e divulgar o livro Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo, com a presença do seu autor, o Senhor Professor Doutor Jorge Calado, que gentilmente aceitou o nosso convite.


O Senhor Professor Doutor Jorge Calado licenciou-se em química no Instituto Superior Técnico e doutorou-se em química pela Universidade de Oxford.
Foi professor catedrático de química-física no Instituto Superior Técnico e professor catedrático adjunto de engenharia química na Universidade de Cornell, NY.
Tem uma vasta obra científica publicada em revistas internacionais e é membro de várias comissões científicas internacionais (no âmbito da IUPAC, Conselho da Europa, OTAN, INTAS e EU).
O seu interesse nas relações entre as ciências e as artes, levou-o a reger cursos neste âmbito na Universidade de Cornell e no Instituto Superior Técnico.
É crítico cultural do semanário Expresso desde 1986 e fundou a IST Press.
Em 1987, a pedido da Secretaria de Estado da Cultura, criou a Coleção Nacional de Fotografia.
Comissariou mais de 25 exposições de fotografia na Europa e EUA.
Adaptado de :Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.

Os alunos Afonso Vicente, Artur Duarte, Caetano Lopes, Diogo Torres, Edgar Duarte, Eduardo Martins, Gonçalo Rodrigues, Inês Fancaria, João Galupa, Margarida Lopes, Mariana Antunes, Mariana Pinto, Mariana Rodrigues, Rafael Dias e Susana Santa Rita, do 11º ano, efetuaram a leitura de alguns textos do livro Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo e/ou realizaram duas pequenas representações no âmbito da referida obra.
A reportagem fotográfica foi efetuada pelos alunos Sofia Pereira e Rodrigo Ferreira também do 11º ano.
O Senhor Professor Doutor Jorge Calado acompanhou e apoiou os alunos durante toda a atividade intervindo frequentemente à medida que as leituras iam sendo efetuadas, dando esclarecimentos e fazendo o enquadramento do que estava a ser lido. Falou-nos também da sua experiência como académico, de ciência, de ética e de arte.


No dia sete de maio na Escola Secundária José Saramago …


Coleção particular do Sr. Professor Doutor Jorge Calado


"Os sentidos dialogam e misturam-se. Ver e ouvir podem ser sinónimos. A 29 e 30 de Abril de 1798 ouviu-se a luz! Aconteceu em Viena, no Palácio Schwarzenberg, durante o ensaio geral e estreia da oratória de Joseph Haydn, A Criação, sob a direcção do com­positor. A explosão coral e sinfónica que acompanha as palavras Und es ward Licht! (E fez-se luz!) foi recebida com uma trovoada de aplausos. O sexagenário Haydn regeu a orquestra à moderna (isto é, com batuta), e teve o respeitado Maestro da Capela Impe­rial, Antonio Salieri, ao piano. Mais tarde, ao tentar descrever o seu estado físico e mental durante a execução da partitura, recorreu à linguagem termodinâmica da época: “Ora me sentia frígido como o gelo, ora a arder cheio de calor, e mais do que uma vez receei estar prestes a sofrer uma apoplexia”. O sopro do génio flui, muitas vezes, entre uma fonte quente e uma fonte fria."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.




"A Criação de Haydn representou uma nova imagem e uma nova percepção do universo, com a luz como símbolo maior dessa nova consciencialização. Van Swieten aconselhara o compositor a descrever, por música, um desvanecimento gradual das trevas, de modo a que o aparecimento da luz fosse dramático e espectacular. E assim foi: Haydn fez explodir a palavra LUZ com um verdadeiro big-bang sonoro - orquestral e coral - na tonalidade alegre e triun­fal de dó maior. E o Espírito de Deus pairou sobre as águas. E Deus disse: Faça-se luz! E fez-se luz. E dividiu Deus a luz das trevas."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.
  





"Carl Scheele é um dos heróis da química. De origem modesta (tinha dez irmãos), sem educação que se visse, circuns­crito à província sueca, contribuiu mais para o progresso da quí­mica do que qualquer outro colega desde então. Descobriu (ou co-descobriu) sete elementos: além do oxigénio, o nitrogénio, cloro, bário, manganésio, molibdénio e tungsténio. Identificou gases como o fluoreto de hidrogénio (HF), o sulfureto de hidrogénio (o malcheiroso e ultravenenoso gás sulfídrico, H2S), o tetrafluoreto de silício (SiF4) e o fatal cianeto de hidrogénio (HCN). Preparou, purificou e caracterizou muitos compostos orgânicos, entre eles o glicerol (glicerina) e os ácidos benzóico, oxálico, tartárico, prússico, múcico, cítrico, gálico, pirogálico, láctico e úrico. (Regalem-se com os nomes, que valem um poema!) Sintetizou (1778) o arsenito de cobre (CuHAsO,) - um pigmento verde conhecido como “verde- de-Scheele”. E foi o primeiro a estudar o efeito da luz nos sais de prata (que enegrecem, por um processo inverso ao da oxidação, chamado redução), base da futura invenção da fotografia. Tudo isto em cerca de trinta anos de vida activa."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.



  "Scheele nasceu em Stralsund, na Pomerânia (então parte da coroa sueca), a 9 de Dezembro de 1742. Aos catorze anos foi para aprendiz dum boticário em Gotemburgo. Começou a ler livros de química e a fazer experiências. Em 1765, a botica foi vendida, e Scheele arranjou emprego noutra farmácia em Malmo, onde prosseguiu as suas investigações. E assim foi andando, de farmácia em farmácia - Estocolmo em 1768, Uppsala em 1770 - até se esta­belecer definitivamente em Köping em 1775, agora como boticário superintendente. Era já um químico reputado, eleito membro e recebido na Academia Real das Ciências Sueca, na presença do rei, em 1775.­"
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.



"Apesar das inevitáveis rivalidades com os praticantes de medicina, os boticários eram uma classe respeitada. Por outras palavras, podiam ser caricaturados. Meus leitores, estamos ainda no século XVIII, onde a melhor forma de elogio era a troça e a piada. Lembram-se d’0 Mundo da Lua de Goldoni e Haydn, que ridicularizava os astrónomos e luná­ticos de boa fé? Pois bem, os mesmos autores deram-nos 0 Boticário (“Lo Speziale”, 1768), a primeira ópera composta por Haydn para a corte do Príncipe Miklós József (Nicolau José) Eszterházy, em Eisenstadt. (Pela mesma altura, o boticário Scheele realizava as suas primeiras investigações importantes em Esto­colmo.) A intriga da ópera é simples e não foge muito aos padrões habituais: uma menina prendada, Grilletta, requestada por três cavalheiros - o velho, o rapaz e o fidalgo. O velho é o boticário Sempronio, que acumula com a tutoria da donzela; o rapaz é o seu aprendiz, Mengone; completa o triângulo, o fidalgo Volpino, cliente da botica. Escusado será dizer que é a juventude quem leva a melhor à veterania e à fidalguia."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.


Representação “O Boticário”:

Mariana Rodrigues – Grilletta
Gonçalo Rodrigues – Sempronio
Eduardo Martins – Mengone
Artur Duarte – Volpino
Música: Ópera “O Boticário” de Joseph Haydn




"Sabendo a estrutura das moléculas e o modo como elas interactuam é possível determinar, com recurso à física e à matemática, as propriedades das substâncias e a sua reactividade. É este o objectivo da química. Pelo que fica dito, parece que sem física e matemática não haveria química. A química surge, pois, após o nascimento daquelas duas ciências. A verdade é que as ciências não são ilhas, isto é, não se desenvolvem isoladamente umas das outras. As ciên­cias são inseparáveis. Até há quem pense que são inseparáveis dos homens e das mulheres que as criam - os cientistas.
A matemática é a linguagem (a música) das ciências. É o instrumento que lhes dá voz e as faz cantar. Sem matemática não há ciência, há pré-ciência (como a pré-história, antes da escrita). O químico pega numa ou mais moléculas - no laboratório ou no computador - arranja um modelo, aplica a física, resolve as equa­ções e tem o resultado. Claro que os fenómenos químicos existem desde que se formaram as primeiras moléculas, mas ciência implica compreensão quantitativa desses fenómenos; não chega apenas a sua descrição qualitativa.
Há, pois, uma hierarquia científica que está ligada à complexidade dos problemas. É preciso notar, porém, que simplicidade não é sinónimo de facilidade (embora a complexidade implique quase sempre dificuldade). Há problemas conceptualmente muito simples (fáceis de entender) que são muito difíceis de resolver."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.




"Na base da pirâmide dos saberes estão as ciências mais básicas, exactas e duras. A sua dureza faz com que aguentem as ciências que vieram depois. A pirâmide vai crescendo em altura, sendo-lhe suces­sivamente adicionadas as ciências mais recentes e moles. A quí­mica explica-se com a física e a matemática; a biologia, com a química, a física e a matemática; a psicologia, com a biologia, a química, a física e a matemática, e assim por diante. A complexidade crescente do problema percebe-se na sequência: átomo (física) molécula (química), célula (biologia), planta (botânica), etc. O peso das ciências mais novas faz endurecer as ciências mais velhas, sobre as quais aquelas se apoiam. Com o tempo, as ciências moles tam­bém endurecem, isto é, tornam-se mais rigorosas e matematizadas, permitindo o aparecimento de novas ciências moles. Esta é, obvia­mente, uma descrição metafórica, mas que ajuda a compreender, em termos muito gerais, a evolução da pirâmide ou árvore das ciências.
No seu livro sobre A Renascença (1873), o esteta e crítico de arte Walter Pater declarou que todas as artes aspiram à condição de música. Mutatis, mutandis, pode afirmar-se também que todas as ciências aspiram à condição de matemática."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.


Representação “A pirâmide dos saberes”:

Químicos –  Afonso Vicente e João Galupa
Físico – Caetano Lopes
Matemático – Rafael Dias
Bióloga – Susana Santa Rita
Psicólogo – Edgar Duarte
Música: Ópera “A Criação” de Joseph Haydn

https://www.youtube.com/watch?v=VQZVhZ66v4Q




"Os físicos têm a sorte de saber o ano (e até o dia) em que a sua ciência nasceu. Sabem também o nome da mãe (que, por acaso, foi um pai). De facto, Einstein chamou a Galileo Galilei o pai da física moderna, e é hoje ponto assente que esta nasceu no fim do Outono de 1609, quando Galileo apontou pela primeira vez o seu recém-construído telescópio à Lua e declarou que o satélite da Terra era “uma coisa muito bonita e agradável de se ver”. O caminho estava aberto para a observação directa do universo e obtenção da prova experimental de que o modelo heliocêntrico de Nicolas Copernicus devia substituir o velho modelo geocêntrico de Ptolomeu de Alexandria. Por outras palavras, que o centro do nosso universo próximo (aquilo que hoje é designado por sistema solar) é ocupado pelo Sol (Helios) e não pela Terra (Geos). Diga-se, de passagem, que refinamentos do antigo e errado modelo davam melhores resultados (mais de acordo com as observações experimentais) do que as versões grosseiras do modelo novo, matematizado por Johannes Kepler. Foi também isto que permitiu que a controvérsia da Terra a girar à volta do Sol ou o seu inverso se arrastasse durante décadas.
O nascimento da física moderna aconteceu na altura certa. Vindo da China, o uso de lentes para óculos tornara-se corrente na Europa durante o século XVI. Em 1480 Domenico Ghirlandaio pintou um São Jerónimo à secretária, na qual figura um par de ócu­los - o suficiente para que o santo ficasse padroeiro dos oculistas."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.




JOSEPH WRIGHT OF DERBY – Uma Experiência com um pássaro da bomba de ar (1768)

         "A experiência está em curso. O demonstrador tem na mão a torneira de vidro da campânula ou globo de vidro; se a abrir a tempo, a cacatua reanimar-se-á. Vê-se a gaiola original pendurada perto da janela e o assistente a pegar nela (não se sabe se para a trazer para recolher o pássaro reanimado, ou para a pendurar na parede se o destino for a sua morte). As reacções da audiência são variadas. No centro, um pai (?) consola as filhas (uma delas tapa os olhos, a outra está fascinada). À esquerda, um miúdo, com a atenção presa, contrasta com um par de namorados, obviamente mais interessados um no outro do que na ciência viva. O sujeite em primeiro plano, à esquerda, tirou o relógio para cronometrar a experiência. Uma caveira de dentes cariados, imersa num frasco em forma de sino, esconde a vela que ilumina a cena (não esqueçamos que Wright era um mestre da luz indirecta). Em primeiro plano, em cima da mesa, destaca-se uma verdadeira natureza-morta de acessórios científicos: o apagador da vela, um frasco meio cheio com um líquido qualquer (óleo?), uma rolha, um par de hemisférios de Magdeburgo."A experiência a que se refere o quadro de Wright consiste em colocar uma ave viva num recipiente fechado, extrair a maior parte do ar e verificar que o animal estrebucha e morre se o ar não for restabelecido a tempo. Conclusão: o ar, ou pelo menos um dos seus componentes, é essencial à vida. O que está representado na pintura não é um pardal qualquer, mas sim uma cacatua branca, uma avis rara na Inglaterra dessa época. Não é crível que o experimentador arriscasse matar uma ave valiosa. A escolha é uma espécie de licença poética do pintor - o branco das penas contrasta melhor com as sombras e o ambiente nocturno do quadro. Adivinha-se a noite de Lua cheia através da janela aberta no canto superior direito da imagem.
 Que faz ali a caveira? Dá a chave para o entendimento subliminar do quadro. Repare-se, ainda, como a vareta que a acompanha (notar a refracção no líquido) funciona como ponteiro, guiando a vista para o dedo indicador do velho demonstrador. A vela marca a passagem do tempo; a caveira é um símbolo de mortalidade. Velho, pássaro moribundo, caveira, vela – a mensagem não pode ser mais clara. Esta pintura é aquilo a que é costume chamar uma vanitas (de vaidade). São transientes as glórias do mundo. A morte é o grande igualizador."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.



"A física, tal como a química - lembram-se ainda do Princípio da Conservação da Energia? - sempre foi uma ciência de gente nova. Ou era, nesses tempos. Aos vinte e poucos anos, muitos já tinham produzido vários de seus melhores trabalhos. Bohr publicara o seu artigo sobre a estrutura do átomo em 1913, aos vinte e oito anos (e não fora especialmente precoce); Pauli doutorou-se aos vinte e um e descobriu o Princípio de Exclusão aos vinte e cinco; Heisenberg formulou o seu complexo tratamento matricial da mecânica quântica aos vinte e quatro. A física era realmente uma Knabenphysik (física de rapazinhos), como diziam os Alemães. Na reunião de 1932, as figuras patriarcais eram o anfitrião, Bohr (que ainda não perfizera quarenta e sete anos), e Paul Ehrenfest, o professor da Universidade de Leiden a quem chamavam a ‘consciência da física’ (com cinquenta e dois). Os ‘jovens turcos’ eram o atlético Heisenberg (com trinta anos), o ascético e mágico Dirac (com trinta e um) e teria sido também o sarcástico e corrosivo Pauli (a quem chamavam o ‘Flagelo de Deus’, com trinta e dois), se ele, como bon vivant, não tivesse preferido fazer umas férias. Depois, havia a geração dos novatos como Max Delbrück (um dos futuros pais-fun- dadores da biologia molecular, então com vinte e cinco anos), Rudolf Peierls (com vinte e quatro) ou George Gamow (com vinte e oito). Este último também não pôde estar presente porque os soviéticos não lhe renovaram o passaporte. A geração dos trinta anos já sentia a pressão da geração seguinte - que, na física, teria apenas qua­tro ou cinco anos menos."
Calado, J. (2015). Haja Luz! Uma História da Química Através de Tudo. Lisboa: IST PRESS.





E no fim ... 






Ao Senhor Professor Doutor Jorge Calado agradecemos a sua disponibilidade e simpatia bem como a manhã magnífica que nos proporcionou. Obrigada por tudo o que nos ensinou. Tal como Haydn o Senhor Professor faz explodir a palavra LUZ!

14/06/18

Participação da escola nas olimpíadas de Química, Física e Astronomia


Respeitando a tradição o Núcleo de Divulgação Científica dinamizou, este ano letivo, a participação da escola nas olimpíadas de Química, Física e Astronomia.
Os alunos Afonso Vicente, João Galupa e Rafael Dias, representaram a escola na Semifinal das Olimpíadas de Química Mais que decorreu no dia 10 de março de 2018, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Os alunos Afonso Certo, João Galupa e Rafael Dias representaram a escola na Fase Regional das Olimpíadas de Física que decorreu no dia 5 de maio de 2018 no CAMPUS do Instituto Superior Técnico no TAGUSPARK. O aluno Afonso Certo, por ter sido apurado na Fase Regional das referidas olimpíadas, participou nas Olimpíadas Nacionais de Física, que decorreram no dia 2 de junho de 2018, nas instalações do Departamento de Física e Astrofísica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

 Os alunos Afonso Certo, João Galupa e Afonso Vicente representaram a escola na Prova Eliminatória das Olimpíadas de Astronomia que decorreu na escola no dia 18 de abril de 2018. O aluno Afonso Certo foi apurado para a Final Nacional tendo os alunos João Galupa e Afonso Vicente ficado como suplentes. Por impossibilidade de comparecer na Final Nacional, o aluno Afonso Certo foi substituído pelo aluno João Galupa, na referida prova, uma vez que este era o primeiro suplente. A Final Nacional das Olimpíadas de Astronomia decorreu nos dias 25 e 26 de maio no Observatório Lago do Alqueva (Monsaraz).


14/05/17

ATIVIDADE - CURIE: UMA FAMÍLIA, CINCO PRÉMIOS NOBEL


No dia 26 de abril decorreu, na biblioteca da escola, a atividade “Curie: uma família, cinco Prémios Nobel”, dinamizada pelo Núcleo de Divulgação Científica em parceria com a Biblioteca da escola. Esta atividade teve como objetivo homenagear uma família que, pelo seu contributo para o avanço da Ciência, recebeu cinco Prémios Nobel, dois de Física e três de Química.



Convidámos para o efeito a Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia, professora catedrática aposentada do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que gentilmente acedeu ao nosso convite.

 Da vasta obra científica e literária da Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia faz parte o Ensaio-biográfico Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face. Esta foi a obra que escolhemos para divulgar e cuja leitura recomendamos com entusiasmo.


No dia 26 de abril a Química misturou-se com os livros da Biblioteca.














Foi neste ambiente que a Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia nos falou um pouco de si, de Ciência e de História da Ciência, divulgou livros sobre Ciência e certamente estimulou o gosto pela leitura. A palestra foi acompanhada pela leitura de trechos do Ensaio-biográfico Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face, efetuada por oito alunos da escola, vestidos com a bata dos Químicos.













No final da palestra foi lida, primeiro em Polaco,  língua materna de Marie Curie, e depois em Português, parte do Discurso de Inauguração do Instituto do Rádio, em Paris, proferido por Marie Curie em 1914. No ano em que homenageámos Marie Curie a escola recebeu um aluno, Remigiusz Stawecki, de ascendência Polaca. Coincidências?




Assistiram à palestra cerca de cem alunos acompanhados pelos respetivos professores. Esteve também presente a Coordenadora Interconcelhia para a Rede de Bibliotecas Escolares.



Aos leitores Carolina Velez, Catarina Baleia, Diogo Torres, Inês Fancaria, Margarida Lopes, Mariana Ribeiro, Remigiusz Stawecki e Simão Silva, o nosso obrigado pelo vosso entusiasmo e pelas excelentes leituras que fizeram.





 Aos fotógrafos, Tânia Antunes e Rodrigo Ferreira, autores das fotografias publicadas, deixamos também o nosso obrigado.




À Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia, agradecemos a magnífica e emotiva palestra que nos ofereceu, a disponibilidade, simpatia e afetividade que manifestou por nós e pelos alunos com que trabalhou e a quem se dirigiu. 





Para quem não esteve presente deixamos a transcrição de alguns dos textos do Ensaio-biográfico Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face, que foram lidos no decorrer da palestra. Certamente que a curiosidade pela leitura da obra irá surgir.

Marie terminou o ensino secundário com as mais altas classificações em todas as áreas de estudo. Esgotada, em genuíno estado de depauperação, é o pai que a obriga a passar um ano em férias no campo, ao ar livre e puro. Marie é jovem e, embora consciente de certas futilidades”, deixa-se embalar pelo prazer das festas, das danças enlaçadas, dos banhos refrescantes, dos flirts de ocasião. Verseja, até! Mas sabe que o tempo de lazer é efémero e, só por isso, o aproveita com tanto entusiasmo.
E agora, que fazer? As desilusões chegam depressa. O ensino superior na Polónia está vedado às raparigas. O irmão José quer ser médico, e sê-lo-á. Para tanto, bastará inscrever-se na Faculdade de Medicina de Varsóvia e atirar-se ao estudo. O que ele fez com êxito. Mas também a sua irmã Bronia quer ser médica e, no entanto, … E Hela e ela própria, o que lhes reserva o destino? A luta, a luta pela igualdade - mas a que preço! Paris, lá tão longe, é a terra prometida.
(Pág. 95)

O recebimento do Prémio Nobel da Física, com o seu valioso contributo monetário, veio aliviar o excesso de trabalho de Pierre, permitir a doação de bolsas a estudantes polacos, satisfazer pequenas ambições de familiares e amigos… e construir um quarto de banho moderno! Mas, ali!, a agitação que se desenvolveu em redor dos Curies, agora celebridades, minou o seu bem-estar e a sua felicidade. Não temos produzido bom trabalho…, lamenta-se Pierre. E, instintivamente, rejeita qualquer testemunho de admiração. Ele quer seguir apenas “os pensamentos dominantes”… e sente-se paralisado. Recusa entrevistas. Aos sintomas físicos que as emanações radioactivas nele determinam, fortes dores musculares principalmente, associa tonturas e cefaleias de origem nervosa.

E Marie? O que se passa com Marie não é muito diferente. Ao seu trabalho de investigação e de docência, associa os deveres maternais. Anda tensa. Dificilmente esquece o aborto inesperado aos cinco meses de gravidez. Abordam-na na rua: A senhora não é Mme Curie? Não, não sou, é a sua resposta.

Quando tudo parecia mais simples, eis que tudo se complica. Escreve Ève Curie que “Marie Curie não soube ser célebre”. É um facto. E acrescentamos nós:… e menos ainda Pierre Curie.
(Págs. 24-25)


Marie Curie era filha de professores. E tanto ela como Pierre não só investigavam como se dedicavam ao ensino. Os seus amigos, professores eram. Não admira pois que a instrução, particularmente a instrução científica, fizesse parte dos desígnios a que as filhas desde bem cedo teriam de se submeter. Mas não seria uma instrução qualquer, padronizada e frágil, como era a que se ministrava nas escolas quer públicas quer particulares. Marie sabia que a vontade de Pierre não seria diferente da sua. Entendeu-se, então, com outros colegas pais de família e, conjuntamente, decidiram-se por um ensino “elitista” para os seus filhos. Eram uma dezena de crianças, os filhos do Curie, dos Langevin, dos Perrin, … que iriam ter por mestres os seus sábios pais e amigos: Jean Pierre para a Química, Paul Langevin para a Matemática, Henri Mouton para as Ciências Naturais... E também, evidentemente aprenderiam História de França e Literatura com Henriette Perrin (mulher de Jean Perrin), Inglês, Alemão, Geografia... Escultura! Só uma aula por dia, de uma só matéria, em casa do professor. Durante o resto do dia as crianças eram livres de correr e brincar.de preferência ao ar livre.
(Págs. 51-52)



A liberdade dos alunos era aparente, por vezes tinha aspectos de grande dureza. As meninas Curie, conta-nos Ève, raramente sofriam castigos, eram “boas alunas”, mas pequenas faltas podiam ser severamente penalizadas. Uma vez Marie Curie ficou dois dias sem dirigir a palavra a Irène e, de outra vez, por uma resposta errada, atirou o caderno da pequena por uma janela...

Boas maneiras? Bom, salvo aspectos particulares, eram consideradas secundárias. Não deviam falar demasiado alto, rir às gargalhadas e chorar em público. Pedia-se-lhes resistência … Marie ensinou-lhes a nada temer, nem o escuro, nem as tempestades, nem as coisas más da vida. Não tiveram qualquer educação religiosa, mas sempre lhes foi dito que poderiam optar em consciência. Sabe-se que Irène nunca entrou numa igreja, nem mesmo para a visitar como obra de arte.

Perante este panorama ser-nos-á mais fácil imaginar a decisão de Marie de introduzir Irène, então com dezassete anos, em cenário de guerra.
(Págs. 51-52)



O Governo francês pede ao povo que doe ouro e prata para sustentar os custos da campanha. Marie quer entregar as suas medalhas dos Prémios Nobel, mas a oferta é recusada. Tem ainda guardado o quantitativo do seu segundo Prémio Nobel , nunca o levantara do banco sueco, o dote prescrito para as “suas meninas”. Conversam entre si … e decidem entregar boa parte desse dinheiro. O futuro? Depois se verá.


Marie Curie sentiu grande orgulho no esforço de guerra da sua filha Irène. Também o Governo francês não se esqueceu dela e outorgou-lhe a Medalha Militar. A Marie, porem, nem uma palavra.
Era tempo de inaugurar a sério o Instituto do Rádio em Paris. Tão impaciente estava Marie quanto Irène para voltarem à investigação. Penso muito no trabalho que teremos pela frente, diz Marie. Marie pensa ainda na grande alegria de ter na jovem Irène uma companheira de trabalho e uma cientista de excelência.
(Págs. 54-55)



Recomendamos também a leitura do Ensaio-biografia Dorothy Crowfoot Hodgkin – Pepsina, Penicilina, Colesterol, Vitamina B12, Insulina, que a Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia teve e gentiliza de oferecer à Biblioteca da escola. 




Terminamos com uma pequena biografia de Marie Curie, adaptada de Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face (Págs. 113-117), acompanhada de imagens de um powerpoint elaborado para o efeito.












Em 1903 os trabalhos de Henri Becquerel e de Marie e Pierre Curie veem o reconhecimento internacional, através da outorga do Prémio Nobel da Física. Metade do prémio foi entregue a Antoine Henri Becquerel "em reconhecimento aos serviços extraordinários prestados pela sua descoberta da radioatividade espontânea" , a outra metade conjuntamente a Pierre Curie e Marie Curie "em reconhecimento dos serviços extraordinários prestados pelas pesquisas conjuntas sobre os fenómenos de radiação descobertos pelo professor Henri Becquerel ".
 
Em 19 de abril de 1906 Pierre Curie, ao atravessar a Rue Dauphine em Paris, morre atropelado por uma carruagem. Marie tinha 47 anos. A cátedra de Pierre na Sorbonne é oferecida a Marie que passará a ser a primeira mulher a lecionar nesta instituição.




Em 1911 Marie Curie recebe o seu segundo Prémio Nobel, desta vez da Química, "Em reconhecimento do seu contributo para o avanço da química ao descobrir os elementos rádio e polónio, pelo isolamento do rádio e pelo estudo da natureza desse elemento notável".






Em 1912 Marie Curie é nomeada diretora do Laboratório Curie do Instituto do Rádio em Paris. Na prática este só estará pronto em 1914, nas vésperas do rebentamento da Primeira Guerra Mundial. Irène Curie irá para este instituto trabalhar com a mãe.






Em 1914 Marie e a sua filha Irène, então com 17 anos, participam ativamente na instalação de aparelhagem de Raios X em cerca de 200 veículos, Les Petites Curies, que conduzem até perto dos campos de batalha, onde examinam doentes e auxiliam no tratamento de feridos.




Em 1922 é criada a Fundação Curie, com vista ao desenvolvimento mais efetivo do estudo e aplicação terapêutica da radioatividade no tratamento de cancro e doenças da pele. A academia de Medicina de Paris elege Marie como membro.





Em 1933 Marie assiste, deslumbrada, à descoberta da “radioatividade artificial” pelo trabalho conjunto da sua filha Irène e do seu genro Frédéric Joliot, facto pelo qual lhes foi atribuído, em 1935, o Prémio Nobel da Química.




Marie Curie morre no dia 4 de julho 1934, no sanatório de Sancellemoz, com 66 anos. O contacto prolongado e descuidado com materiais radioativos provocou-lhe a morte por anemia aplástica.


A filha mais nova de Marie e Pierre Curie, Ève Curie, publicou a biografia de sua mãe Madame Curie que, em 1943, deu origem a um filme com o mesmo nome.




Durante a II Guerra Mundial, o regime de Vichy, regime francês que apoiou a Alemanha Nazi, retirou a Ève Curie a cidadania francesa. Ève mudou-se para os EUA onde faleceu com 102 anos. Após a guerra foi editora do jornal francês Paris-Press.



Adaptado de: Gonçalves-Maia, R. (2011). Marie Sklodowska Curie Imagens de outra face. Lisboa: Edições Colibri.